Era outubro de 1947, sinto-me cansado depois de um longo dia de aulas. Enquanto escolho uma leitura para acalmar os devaneios e melancolia mental da vida adulta. Ouço o leve som de chuva contra o vidro. A noite aparenta-se um pouco mais fria do que de costume para essa época do ano.
Aqueço a água para um chá e sigo em rumo a sala de leitura. Pego a lamparina que sempre deixo próximo a minha poltrona, saco do bolso um acendedor. Lentamente, percebo que a pequena chama daquela combustão foi capaz de iluminar o aposento com um tom amarelado de calmaria.
Vejo-me de frente a antiga estante de jacarandá que pertence a família há gerações. Com os olhos a caçar o livro de anatomia que servirá de material para as minhas próximas aulas na Universidade Miskatonic.
Ouço o som da chaleira, repouso o Anatomia Topográfica Humana sobre a poltrona e dirijo-me de volta a cozinha. Preparo a infusão e em seguida retorno ao meu acento, aproveitando para pegar uma caneta e papel para as anotações, e por fim desbravo-me sobre a leitura.
Não sei que horas eram, parecia-se mais tarde que a virada do dia. Acredito que devo ter cochilado. Ainda meio sonolento, ouço o som do meu velho telefone, em um salto, levanto-me ofegante e corro para atender.
Por sorte o cabo do telefone era longo o suficiente para que pudesse me posicionar para a janela que dava vista para todo o campus da universidade, e tinha uma visão privilegiada do prédio imponente que era aquele da biblioteca geral. Reforcei o pedido ao senhor Anderson que acendesse a luz de onde estava, que assim o fez.
Apesar da chuva e da leve neblina que impedia de uma visão perfeita, identifiquei que o senhor Anderson estava no segundo andar do prédio, no que me parecia ser a ala sudeste. Tentando acalma-lo, logo lhe pedir esperasse que já estaria ligando para a polícia. Mas tão logo que fiz o movimento para colocar o telefone na base, vi algo além da figura agachada próxima a janela, havia mais alguém lá. Ao susto, rapidamente trouxe novamente o bocal ao rosto.
Sons de movimentos e de livros caindo são escutado do pelo outro lado da linha. A luz da luminária da biblioteca se apaga.
Angustiado, aproximo o meu rosto junto a janela, não consigo distinguir o que vejo por causa dessa maldita neblina. Um relâmpago, há algo nas janelas da biblioteca.