Assisti recentemente o filme “A vida secreta de Walter Mitty” e posso dizer que foi um dos filmes que mais conversaram com a minha vida.
Talvez tenha entrado para os melhor filmes que já assisti na vida até então. Isso porque vou apresentar um pouco do filme para você e falarei um pouco das minhas reflexões sobre e como o curso de roteiro me fez ver o filme por outra ótica.
Walter Mitty é um daydreamer, uma pessoa tem o costume de sonhar acordado. Em vários momentos que o acompanhamos nesse ato. Esses episódios acontecem quando, ao ser confrontado ou colocado em uma posição de estresse, sua mente o faz viajar. E isso muitas vezes é interpretado pelas pessoas a sua volta como desatenção ou como se ele fosse bobo, ele está no mundo da lua.
De profissão, Walter é um diretor do setor de negativos de fotos para uma revista estadunidense chamada LIFE. Quem tem como melhor fotografo, o Sean O’Connell, sendo uma pessoa que vive viajando pelo mundo, vivendo sem tecnologia (incluindo celular) e retratando a beleza por onde passa.
Nossa história começa com Walter em sua casa revisitando suas contas financeiras e batalhando contra sua insegurança de enviar uma “piscada” em um site de relacionamentos, para uma colega de trabalho na qual ele gosta.
Logo de início me vi representado na figura do Walter em diversos momentos da vida, onde os planos financeiros me tiravam um pouco do tato humano e não conseguia dar o primeiro passo para tentar interagir com outras pessoas, ainda mais aquelas que queria me relacionar.
E por ironia da vida, depois do Walter ter conseguido uma coragem de arriscar e enviar a “piscada” para a sua colega Cheryl, o site de relacionamentos apresenta um bug, um problema, que não é capaz de enviar a sua requisição. Fazendo assim Walter desistir momentaneamente e seguir para o seu dia de trabalho.
Na estação de metro, vemos ele ligar para os responsáveis por trás do site de relacionamentos para tentar resolver a questão da “piscada” em seu perfil para que esse seja o caminho que sua coragem encontrou de se comunicar com a Cheryl. Lá conhecemos Todd, um representante do site, que não consegue encontrar o problema de imediato, mas analisa o perfil de Walter e percebe que nos últimos tempos ele não tem recebido nenhuma piscada e questiona o porque o perfil dele se encontra tão “sem graça”.
E aqui acontece nossa primeira viagem com o Walter, ao ser confrontado por algo que ataca seu inconsciente pessoal, Walter se vê salvando o cachorro da Cheryl e sendo capaz de conversar com ela. Ao “acordar”, percebe que perdeu o trem e se atrasará para o trabalho.
Nesse dia, Walter sonhará mais do que tem de costume, Walter será apresentado a diversas situações de estresse. Seja pela venda da empresa em que trabalha, o fato de sua ansiedade não permitir que converse com a Cheryl quando a vê e quando é questionado pela foto de número 25 que o Sean enviou para ser capa da última edição da revista.
A foto número 25 é a quintessência da vida, a obra de arte segundo Sean. E ela deveria ter vindo junto com um rolo de filmes que o Sean enviou para o Walter em um pacote, junto com uma carteira que tinha gravado o lema da revista LIFE.
Eu particularmente não acredito em propósito, mas pelas mensagens que o filme trás, é algo que motivasse ao Walter se mover, a buscar sua ambição, buscar viver aquilo que tanto sonhava e projetava.
Mas tendo que a foto havia desaparecido e ninguém do departamento a encontrava, e sendo pressionado pelo novo chefe da revista a apresentar a foto o quanto antes para que pudesse apresentá-la ao restante da equipe. Walter resolve ir atrás do Sean.
Aqui que temos uma das viradas de ato do filme, Walter colocado contra a parede, acaba precisando pedir ajuda a Cheryl, já que ela teria como tentar localizar Sean através dos pagamentos que ele recebeu da revista. Com isso Walter consegue conversar com ela e conhecer mais quem é a pessoa que ele estava admirando de longe.
Cheryl é uma mulher independente, uma mãe de um cachorro de três patas e de um garoto de duas (palavras dela para se definir no site de relacionamentos). Cheryl compartilha com Walter suas dores e inseguranças em relação ao trabalho, apresenta seu filho que adora andar de skate.
(Aqui preciso trazer um recorte do passado do Walter, ele era um garoto prodígio no skate quando mais novo, seu pai o incentivava, mas quando esse morre, o Walter acaba abandonando tudo que gostava para poder trabalhar e ajudar a sua família)
E ao perceber que o garoto não conseguia performa uma manobra com o skate, Walter o ensina. Mas Cheryl está no telefone discutindo com o Ex e acaba não vendo algo do Walter.
Mais adiante vemos algo que a Cheryl também havia colocado no seu perfil do site de relacionamentos, sendo posto em prática, sua paixão por histórias de mistérios. E analisando as fotos deixadas por Sean no rolo, ela tenta ajudar Walter a desvendar o mistério da localização do Sean. Assim, junto com uma informação de uma amiga de Cheryl, eles descobrem que Sean foi visto pela última vez na Groenlândia. Desanimando todos por ser tão longe e Walter não teria a foto.
Mas algo muda no Walter, inspirado por sua conquista com a Cheryl, e com a fala dela sobre o que a música de David Bowie, Major Tom. No início do filme vemos a menção a sobre essa música de maneira pejorativa quando o novo chefe da revista menciona a letra para falar do Walter que estaria no “mundo da lua” em seus momentos de sonho acordado. Só que agora, Cheryl conta que a letra fala sobre coragem, coragem de tentar algo novo. E assim ele vai direto para a Groenlândia atrás de Sean e a localização da foto 25.
E nesse momento me veio um filme, quantas vezes precisei de um empurrãozinho para sair da minha inércia? Nunca fui um garoto ambicioso na infância e na adolescência. Mas sempre tive certas vontades e desejos. Só na vida de jovem adulto que tomei coragem de certas escolhas na vida e embarquei, assim como o Walter, em uma aventura que mudaria minha vida e personalidade para sempre. Comigo, o Ciência sem Fronteiras.
Assim como o Walter, me vi desbravando diversas novidades em países que não sabia falar direito suas línguas e teria que me virar. Buscando algo que para mim tinha um significado libertador, algo além dos sonhos, viver.
Contudo, para Walter na virada do ato 2a para o ato 2b, ele precisou retornar para casa pois chegou em um “beco sem saída” em sua busca por Sean. E é nesse momento que Walter é colocado contra sua própria sombra e seu mundo tenta novamente a se tornar de um sonhador.
Ao voltar para casa, Walter leva um skate que havia conseguido na Islândia, para o filho de Cheryl e encontra na porta da casa dela com o ex-marido dela. E sem ter chance de perguntar algo, ele resolve deixar o presente e ir embora. Ele recebe um ultimato no trabalho, ou é a foto, ou será demitido como os demais estão sendo. Ele se desfaz até da carteira que ganhou de presente do Sean.
Tudo parece desmoronar. até ele ouvir de sua mãe que o Sean conversou com ela perguntando sobre a rotina do Walter, do amigo que ele tanto admirava. E olhando novamente nas fotos e outras informações, descobre que o Sean poderia está no Himalaia atrás de um Gato Fantasma. E assim, Walter tenta mais uma vez, saí de sua inércia e volta a sua busca, não só da localização da foto, mas do que ele realmente quer da vida.
Ao encontrar com o Sean, ouvimos dele frase que movimentam diversos sentimentos dentro da gente, como:
E como isso me mexeu, como a gente hoje que vive em uma vida de redes sociais que precisamos o tempo todo mostrar que “vivemos” uma vida bela e que precisamos expor para requer segundos e likes de outras pessoas; a gente acaba esquecendo que a vida é simples e na simplicidade que estão a beleza dela.
A insegurança de Walter sobre imaginar demais a respeito da Cheryl sem perguntar se ela tinha voltado com o ex, é outra coisa que me pegou em cheio e que me fez voltar em quantas vezes eu errei por achar algo, sonhar demais e não tentar ver/perguntar sobre a realidade. Tornando assim vários mal-entendidos pelo caminho?
A história avança a ponto de vermos uma grande transformação não só física, mas em personalidade do Walter. Se permitindo agir e lutar (algumas vezes literalmente) para conseguir aquilo que deseja.
E isso se reflete até no seu novo perfil do site de relacionamentos! (veja para entender melhor kkkkkkk)
Mas enfim, acho que contei muito spoilers sobre o filme, recomendo demais assistir.
Temos muitos assuntos de roteiro aqui como os arquétipos de Jung e suas representações dentro do filme. O sonhar acordado como manifestação da sombra e do inconsciente pessoal, a Cheryl como seu Anima provocando mudanças, o caminho do herói do Walter e todas as lições de estoicismo apresentadas por Sean. E se deixar passaria horas aqui escrevendo como se estivesse relatando não só aspectos técnicos como uma sessão de terapia.
E para fechar, se me permitir uma mensagem: aproveitem mais a vida fora do trabalho, olha eu seu redor, quem sabe não tem algo belo que está disfarçado por trás de um sonho ou utopia?
Espero que fique bem.
Um xero,
João.