Em 2019 tive o primeiro contato com o filme Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas através de uma amiga. Estávamos conversando sobre filmes e ela comentou comigo que esse era o seu filme favorito. E pensei comigo mesmo, porque não assistir?
Dentro de seus 125 minutos de filme, Tim Burton, Daniel Wallace e John August vão nos contar sobre a vida do Edward Bloom.
Nos primeiros momentos do filme, acompanhamos os últimos e os primeiros anos da vida de Ed. Os três anos desde a descoberta de um câncer, e seu nascimento até a fase da transição infanto para o juvenil.
Ed, é um senhor contador de histórias, adora narrar para seus amigos e familiares as suas aventuras. E sua história favorita é a do nascimento de seu filho, Will.
Will por sua vez, que cresceu ouvindo as histórias fantasiosas de seu pai, sente um conflito interno em não saber se o que seu pai conta é real ou não. E isso ocasionando a uma briga com ele, fazendo que passem alguns anos sem se falar.
Na fase criança para início de sua adolescência, Ed e seus amigos vão até a casa de uma suposta bruxa que tinha uma fama de conseguir mostrar quando e como a pessoa, que olhasse em seu olho de vidro que anda sempre tapado, iria morrer. Desafiado por seus amigos, Ed vai até a casa da bruxa e ver como seria seu fim. E ao contrário de seus amigos que acabaram vendo seus destinos e ficando com medo sobre o que o futuro lhes aguardava, Ed ficou positivamente surpreso e mostrou uma postura um tanto quanto otimista para sua idade.
Aí venho quebrar a quarta parede do texto para te perguntar, como você reagiria se soubesse quando e como iria morrer? (Se não quiser seguir o texto a seguir por conta de spoilers do filme, desejo uma boa reflexão sobre a pergunta).
A história vai se seguindo até que vimos o momento em que Will recebe a notícia que seu pai parou com a quimioterapia e aguarda seu destino. Com isso, Will e sua esposa que está grávida, decidem ir para a casa de seus pais.
Lá conhecemos um pouco mais das interações da família Bloom, como as histórias do Ed preenchia os espaços de silêncio do jantar, como Will cuidava da piscina quando o seu pai estava viajando a trabalho e como sua mãe Sandra seguia segurando as pontas de tudo.
Voltando para a fase adolescente, quase um jovem adulto, acompanhamos Ed com seus 18 anos. Sendo o melhor na feira de ciências da escola, sendo o melhor jogador do time de futebol, sendo o queridinho da cidade. Mas mesmo tempo “tudo”, aparentemente algo faltava pro Ed. E o chamado da aventura virá através de um dos primeiros episódios fantásticos que será narrado para nós, o gigante.
Aparentemente, um gigante aparece em sua cidadezinha, destrói um celeiro e ganha a fama de comedor de cabras e humanos. Ed, ao ouvir o anúncio do prefeito em pedir voluntários para resolver o caso do gigante, se prontifica em ajudar. Interpreto que não por querer de fato ajudar, mas sim por querer se aventurar e saber que não será ali que morrerá.
Ao se adentrar em uma leve mata, Ed se encontra com o tal gigante, o Karl. Sim de fato é um homem bem alto, o ator Matthew McGrory só tem 2,29m em comparação aos 1,77 de Ewan McGregor que faz o Ed. E os ângulos escolhidos por Tim Burton ajudam a passar a impressão da grandiosidade do gigante Karl.
Aí que começamos algumas leitura que faço dessa primeira parte que venho comentar com você, Ed ao conhecer o Karl, não vai julgá-lo como o pessoal da cidade o faz. Tratando o diferente como uma monstruosidade, mas como uma pessoa que de fato é, com respeito. Karl se sente deslocado e descriminado por onde passa. E Ed fala uma das frases que mais marcam o personagem pra mim.
Essa frase pra mim demonstra dois ensinamentos e uma relação com o meu passado. Se olharmos por outra perspectiva, não temos que nos forçar a nos encaixar em uma sociedade que não nos respeita por sermos diferentes. E mesmo você tendo tudo, e sendo o mais perfeito para todos, nem sempre isso vai satisfazer a vontade de se aventurar nos desafios e conflitos que a vida tem de apresentar.
Eu, em meados de 2009 à 2011, me sentia deslocado da cidade onde nasci e cresci, Salvador. Sentia que já havia vivido tudo que a cidade tinha a oferecer. Mesmo com os meus 16 à 18 anos, tive a oportunidade de ir viver o carnaval em seus momentos mais gloriosos do início da década de 2000. Fui a inúmeros shows do festival de verão, vir Akon, Jason Mraz, Bob Sinclair, Nando Reis, Charlie Brown Jr., Capital Inicial e tantos outros. Já havia rodado de norte a sul da cidade, a ponto de se me soltassem em qualquer canto da cidade, eu saberia voltar facilmente para casa. Estudava e tirava notas boas.
Algo dentro de mim dizia que não seria ali que viveria a minha vida. Em 2011 tentei fazer vestibular para Fuvest e Unicamp, para tentar ir para São Paulo a fim de estudar e experimentar a vida de morar só. Não foi dessa vez que a vida quis que eu vivesse isso, e sim em 2014 com o que ela aguardava pra mim. O Ciência sem Fronteiras.
Morar por um ano na Inglaterra, me transformou como pessoa. Além de viver em um país cuja língua materna não é a minha; tive que me virar com certos perrengues de uma vida jovem adulta - principalmente a privilegiada - precisa passar (na minha opinião). Como resolver questões bancárias, fazer compras em supermercado, cozinhar, lidar com o dinheiro e outras demais. Conhecer outras pessoas e culturas foi algo pra precisava para ser mais eu e entender melhor aquela angústia, que abafava dentro de mim, queria dizer. Viva o mundo, viva as pessoas. Viva.
Voltando à Salvador no final do intercâmbio, conheci lugares no Brasil. Fui rever meus amigos do intercâmbio, fui conhecer suas casas, seus mundos. Percebi que viajar era algo que me faz muito bem.
Tive a oportunidade de trabalho nos anos seguintes e fui morar em São Paulo. Uma experiência ímpar e tão querida na minha vida. Fiz amigos, conheci lugares, aprendi muito sobre mim e sobre os outros. Em 2022 fui ao Canadá encontrar com um amigo. Esse ano que escrevo esse texto, pretendo ir ao Japão, e nos próximos conhecer mais o mundo e seus habitantes.
Essa retrospectiva e reflexão veio para falar sobre mim, porque a ambição do Ed Bloom se refletiu demais no que havia dentro de mim. Não uma ambição capitalista de enriquecer, ou ser o maior de todos. Mas de querer algo melhor pra mim, não precisa ser material, pode ser apenas um simples chamado para aventura.
Obrigado por ler até aqui, me conta depois, qual é a sua ambição?
Um xero,
João.
P.S.: Teremos outras partes para dissecar mais sobre esse filme maravilhoso e suas mensagens incríveis!